Na oscilação do eu
É que precisava me restabelecer, refletir, colocar a cachola no lugar, nisto eu necessitava estabelecer metas, o que eu almejo como homem e ser. Na metade do percurso digo que não conseguirei, cansarei e irei parar para respirar, não! Isso só acontece com aqueles que realmente não querem alcançar seus objetivos, é preciso força de vontade como sempre. Percebo que a vida não é uma estrada retilínea, é uma estrada brasileira cheia de obstáculos, esburacada, com aclives e declives. Nada tão sofisticado e nada tão fácil.
No que agora eu sinto que sei até demais, quando na verdade sempre me sinto pequeno, e no que eu tanto mudei e talvez não é percebível. De um tempo que já se foi, acreditava que haveríamos de mudar isto aqui. A nossa própria consciência, mas não. Fico diante de multidões observando o meu espectro no olhares de cada um, esperando por uma descontração, alguém a dizer:
- Ânimo garoto, levanta, segue a luta.
Fico até com os conhecidos, imóvel, calado, uma nuvem de sugestões me vem na mente, falares, diálogos, a vergonha, e principalmente o respeito, como assim? Respeito pelo espaço do outro, pela razão do outro, quando eu diante de um esporro, de uma dura, de advertência ou simplesmente de um questionário crítico, eu fico calado, deixo a razão para o próximo, sinto-me assim novamente pequeno, inferior. Prefiro assim parecer, é melhor, para quê e por quê? Demonstrar que é tão feliz, que está bem bebendo disso aqui, comendo disso dali, com garotas e afins, o meu amor é sincero... Quando eu por não gostar de me pertencer a nada, fico diante de mim mesmo, no fã clube de meu espelho.
E até meu pai diz que mudei, meus amigos também, agora mesmo, raros e poucos são fieis a ponto do desencontro emocional. Homem sensível, minha amiga disse-me na sexta. De poucos palavras para alguns, reservado, e para uns inquieto, falador, não sossega no mesmo lugar, é este segundo 'eu' que relembro meus tempos de criança, quando fui diagnosticado com imperativismo. E agora nesta vida adulto onde é que me encaixo?
Chega a ser irônico, diante destas oscilações, é mais um dia, claro que é. E certamente é dia das mães, cara como é ridículo isso e todas as outras datas, minha mãe não foi feita para vocês dilaceradores de carteira a roubarem de mim e dizerem compre um celular marca tal, modelo tal, nesses dias da mães não seja o filhinho bobo que só dá um abraço, dê o que ela merece com o novo kit higiene pessoal e assim em outros exemplos. A merda vocês, na irrelevância de se mostrar tão aparentemente ótimo. Ela é minha, ela é única, não se abaixem e deixem se levar pelas pseudobrigações que os comercias passam.
Queria mesmo era demonstrar mais, extirpar este complexo de superioridade. Melhorar meu conceito de sala, de padrões concretizados por habitantes inóspitos. E quando alguém me diz: "Jesus te ama", eu penso logo na falta de coragem e no receio de que ela própria não conseguiu dizer: "Eu te amo". Por que é necessário amar em vida para depois dela ter a divina recompensa? Quanto eu. Isto me incomoda, tudo é justificado aos olhos de Deus. "Graças a Deus consegui a vaga de emprego", ou até dos bens materiais, "Foi Deus que me deu", ou pior quando na guerra ou no esporte, as preces são para o time ser campeão ou ele ficar do "nosso" lado na vitória. E quando mais os fracassos também são assim, "Não consegui porque Deus não quis que eu conseguisse agora" ou "Deus sabe o que faz". Queria que as pessoas admitissem mais suas próprias conquistas e derrotas, e não que tudo fosse justificativo a um terceiro elemento. E como eu li em certo lugar que as mãos que ajudam são mais sagradas que os lábios que rezam.
E aqui vem minha última oscilação de que logo chegado em casa, a satisfação de estar perto foi gratificante, e quando sentei em minha cama, meta cumprida, agora é projetar isto em anseios e ambições, só tomara que a preguiça e vontade de não fazer nada se misturem de bom grado e partam de mim.